1. Sr. Lindolfo Martin, fale um pouco sobre as suas origens, sua família, pais, tios, primos. Existe algum empreendedor em sua família? Tem alguém como modelo? O que seus pais fazem?
Resposta: Meus pais se conheceram no interior do Rio Grande do Sul, nasci em Santa Cruz do Sul, nossa família mudou-se para Maringá-PR nos idos dos anos 60. Foi com meus pais que aprendi a fazer comércio, a empresa da família foi a minha escola prática, onde comecei a trabalhar desde muito jovem atuando em todas as áreas.
A empresa da família começou em Maringá, como iniciativa de minha mãe vendendo na garagem, saldos de calçados oriundos de amostras e devoluções da representação de calçados do meu pai que atuava no atacado de calçados no norte do Paraná. Minha mãe foi o meu modelo inspirador como comerciante e empreendedora, e meu pai um exemplo de trabalho honesto e incansável, com ele aprendi, a ser um “faz tudo”.
2. Sr. Sr. Lindolfo Martin, poderia falar um pouco sobre sua formação? Foi bom aluno? Gostava de estudar? Como você aprende mais?
Resposta: Sou formado em administração na Universidade Estadual de Maringá – UEM. Não fui muito empenhado na época de Universidade. Comecei a dar mais valor para o curso depois que comecei a empreender de forma independente aqui em Campo Grande em 1978. Na época da universidade, além de trabalhar muito na empresa da família, eu gostava mesmo era pilotar motocicletas, participei de dois campeonatos de motos 50cc do norte do Paraná no kartódromo de Rolândia, conseguindo ser campeão de ambos. Com esta atividade esportiva aprendi muito sobre a importância do trabalho em equipe e do envolvimento dela em torno de um objetivo.
Entendo que quando precisamos aprender ou vencer um desafio, temos uma motivação muito maior para o aprendizado, por isto afirmo que a necessidade é a mãe de todas as motivações.
3. Sr. Lindolfo Martin, como tudo começou sua história? Em qual data e cidade? Quais foram as principais dificuldades no início da empresa e como fez para vencer tais obstáculos?
Resposta: Eu e minha esposa nos conhecemos em Maringá quando ia pagar duplicatas da empresa da família, a Elza trabalhava no Banestado e sempre me atendia muito bem, esta “paquera” virou, namoro, noivado e casamento em 1976. Em 1978 depois da divisão do Estado de Mato Grosso, resolvemos mudar para Campo Grande-MS, pois uma nova capital representava um terreno fértil para quem queria se aventurar começando um negócio com ideias próprias que não cabiam na empresa da família. A Elza estava grávida de 4 meses, tínhamos um capital no valor de um fusca, cedido do meu pai para ser devolvido dentro de um ano. O sonho era empreender um negócio que valorizasse o conhecimento e as pessoas, como também nos desse o sustento. Foi então que conhecemos um casal de japoneses da família Arakaki, na época eram donos da banca 100 no mercado municipal, eles tinham um imóvel ideal para a loja e uma casa de madeira ao lado, na Rua Rui Barbosa, 1901, que eram a medida para nosso começo e orçamento.
Fui conversar com o casal para alugar aqueles imóveis e eles acreditaram no nosso propósito, pois, viram transparência, vontade de empreender e começar a vida. Começamos a empreender com a primeira loja: Multicasa, voltada a área de elétrica, hidráulica e ferramentas.
Em 1981 abrimos uma unidade da Multicasa em Cuiabá-MT, em sociedade com meu co-cunhado Mario Eguni. Já em 1982, começamos a investir em Micro-computadores, pois percebi que a automação comercial seria acessível aos pequenos e médios negócios, desenvolvemos sistemas para agilizar as vendas, orçamentos emissão de notas, enquanto o mercado utilizava sistemas para as funções de “Back-office.
Por não existir suporte de software e hardware naquele tempo, tivemos que criar uma empresa de informática, chamada Multicomp, que passou a representar as marcas: Prológica, Elgin, Elebra, Ecodada, Rima entre outras, vale lembrar que naquela época existia a reserva de mercado para produtos nacionais e era proibida a importação de produtos de informática.
A Multicoisas foi criada em 1984, de uma percepção que tive ao atender os clientes na loja Multicasa, percebi que os clientes que buscavam pequenos reparos para seu dia a dia, nao encontravam uma loja preparada para bem atende-los, naquela época ainda nao existia o auto-serviço na área que atuávamos e os vendedores não eram bem preparados para atender o cliente das pequenas coisas. Foi dai que surgiu a ideia da Multicoisas, uma loja que valorizasse e fosse formatada para tal atendimento, foi concebida já com auto-serviço assistido e com microcomputadores no caixa, sendo a primeira loja inaugurada na Av. Fernando Correa da Costa.
4. Na visão do senhor, a partir do momento que se tornou franquia, foi aí que se tornou uma grande potência no Brasil? Hoje o senhor tem em torno de 203 lojas Multicoisas espalhadas por 24 Estados do país e fatura aproximadamente 465 milhões no ano de 2016. O senhor esperava tudo isso?
Resposta: Em 1990 começou um impasse, pois, eu queria crescer sem dividir os recursos humanos e financeiros, o que ocorre na abertura de filiais. Um modelo que em vez de dividir pudesse multiplicar os recursos, somente um sistema que mais tarde entenderia como sendo de franquia, poderia proporcionar tal solução pois cada novo parceiro entraria com novos recursos de capital, trabalho e inteligência e a franqueadora entraria com marca, formato, experiência, tecnologia e força de rede, e isso só um sistema que tivesse o “olho do dono” , “barriga no balção’ poderia proporcionar, o conceito hoje conhecido como franquia foi se fortalecendo ao longo dos anos, lojas que operam de forma interdependente, oferecendo idênticas soluções nos mercados que atuam. Lembro sempre que apesar de abrir um negocio testado, sempre existe risco em qualquer empreender, e o sistema de franquia deve ser visto sob uma ótica muito própria, e não como um cheque visado de retorno sobre o investimento, pois todos os negócios são influenciados, por muitos fatores internos e externos.
Assim com a ideia de multiplicar em vez de dividir em 1990 nascia o conceito da franquia Multicoisas, tive que mudar meu mapa mental, porque agora seria um vendedor de conceitos e formato de negocio como um todo, e não mais um comerciante de produtos. Tive dois consultores importantes que muito ajudaram a organizar as minhas idéias, eram sócios na época da Pró-Franchising, Marcus Rizzo e Marcelo Cherto. Peguei um ônibus de Campo Grande-MS fui a São Paulo e contratei uma consultoria de franqueabilidade para aprimorar meus conceitos. Ao longo destas anos jå ganhamos diversos prêmios de reconhecimento de qualidade como franqueador, sendo reconhecido uma vez pela ABF como a melhor franquia do ano do Brasil, e duas vezes pela revista PEGN, como sendo a melhor franquia do Brasil, sempre tendo os franqueados como fonte de pesquisa. A mais de uma década ganhamos anualmente o selo de qualidade da ABF.
Tivemos um crescimento orgânico, abrindo 60 lojas em 18 anos, sendo que em 2008, resolvemos fazer uma planejamento estratégico compartilhado, envolvendo franqueados e franqueadora, e lançamos um desafio mais arrojado para os próximos anos, desafio este que nos fez chegar a mais de 200 lojas em 2016.
5. Como o senhor se vê como pessoa? Quais suas características pessoais mais importantes para sua empresa?
Resposta: Vejo-me como uma pessoa flexível para mudanças. Não tenho receio do novo. Qualidade em formar pessoas para o mundo é a característica mais importante para uma empresa no meu ponto de vista. A Multicoisas oferece uma Universidade, com intuito de formar os franqueados e colaboradores. Também, oferecemos curso a distância, conhecido como EaD.
6. Senhor Lindolfo Martin, como vê o capital intelectual das pessoas em sua empresa? A busca por conhecimento é importante na visão do senhor?
Resposta: Com o advento da internet o conhecimento se tornou muito mais acessível a todos, basta querer ter iniciativa e coragem de buscar o que dá sentido a busca de cada um. Certas pessoas somente dão valor quando pagam por algo, e tanto a empresa como a internet são uma fonte inesgotável para a formação do capital intelectual de cada pessoa. A busca do conhecimento é vital, mesmo porque o mundo moderno faz o próprio conhecimento ficar ultrapassado cada vez mais rapidamente, exigindo novas competências.
Sérgio Bento De Sepúlvida Júnior
Sócio Administrador e Escritor
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