Um mês depois de ser deflagrada, operação da PF ainda traz reflexos para setores do país e faz muitos brasileiros repensarem hábitos alimentares
Nesta segunda-feira, a Operação Carne Fraca deflagrada pela Polícia Federal no dia 17 de março, completa um mês. A investigação iniciada em 2015, após denúncia do fiscal sanitário Daniel Teixeira, envolveu mais de mil agentes e revelou um esquema de corrupção que envolvia fiscais do Ministério da Agricultura e os principais frigoríficos do país.
Durante este mês, os brasileiros acompanharam embargos econômicos à importação da carne nacional, uma fiscalização intensa aos supermercados e açougues e a suspensão da produção em algumas unidades frigoríficas do país.
Enquanto isso, na expectativa de diminuir a crise de confiança que assolou consumidores, autoridades endossavam o coro pela qualidade do produto. O presidente Michel Temer, inclusive, promoveu um jantar com embaixadores em uma churrascaria.
Para a estudante Danielle Frühauf, os casos de fraude para a liberação de alimentos em situação irregular foram determinantes para a decisão de suspender totalmente o consumo de proteína animal.
“Meu pai sempre teve um estilo de vida bem saudável, ele não comeu carne vermelha por 20 anos. Pelo peso que ela tem no nosso organismo, ele só consumia peixe. Em 2010, eu peguei o exemplo e tive alguns problemas de pele no inverno porque não substituía de forma correta e tive também deficiência de minerais. Com isso, no final de 2011 voltei a comer carne vermelha”, conta.
Em busca de uma alimentação natural e com o exemplo em casa, a decisão definitiva veio depois da Operação Carne Fraca. “Tentamos ser mais naturais. Nossa frequência de consumo da carne bovina sempre foi moderado e depois dessa crise, suspendemos de vez. Agora acho difícil voltarmos a consumir em casa.”
Especialistas
A mestranda em administração pública, Beatriz Kipnis, também foi motivada a restringir o consumo de carne e frango após a operação. A medida, que em um primeiro momento seria provisória, foi reforçada pela desconfiança na qualidade da produção. “Comecei a pensar que estava comendo várias coisas estragadas e cheias de aditivos que eu não queria colocar no meu corpo”.
Carne Fraca: impactos chegaram à mesa dos brasileiros
Segundo Daniel Magnoni, nutrólogo e cardiologista do Hospital do Coração (HCor), por mais que a carne seja um alimento substituível, parar o consumo pode ser uma medida radical, principalmente se for realizada sem o auxílio de um especialista. “O consumo fornece nutrientes importantes e necessários. A substituição é possível, mas muito difícil, na medida em que necessita de conhecimento sobre nutrição e é mais dispendiosa”.
Frigoríficos usavam produtos químicos para disfarçar cheiro de carne vencida
Para a nutricionista Ana Ceregatti, profissional com mais de 20 anos de experiência, a operação foi um choque para um país que culturalmente valoriza o consumo de carne. Segundo ela, o questionamento em meio a esta crise foi capaz de expor o crítico estado nutricional do Brasil, em que mais da metade da população é obesa e boa parte sofre de carência de nutrientes.
Ana afirma que abandonar a carne do cardápio é uma decisão completamente viável e segura. Assim como Daniel, ela defende que o acompanhamento de um profissional é importante para auxiliar no desenvolvimento de uma dieta que contemple as necessidades de cada paciente.
“A cultura da educação médica ensina que a carne é imprescindível para a alimentação, junto a isso temos uma base pecuária que preza pelo consumo. Dizer que quem para de consumir carne sofre com carência de nutrientes é um mito. O que acontece é que muitas vezes a pessoa não tem o discernimento para fazer as substituições certas”, alerta.
Alimentos que “roubam” vida
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um consumo diário de até cem gramas de proteína animal. No Brasil, os índices ultrapassam muito o recomendável. Ana atenta para as consequências. “Excesso de carne causa uma dieta acidificante, que traz consequências para o metabolismo e perda de massa óssea. Além disso, causam dificuldades no fluxo intestinal e aumentam o risco de infarto”.
Por fim, ela salienta a importância da Operação Carne Fraca em um momento em que o tema alimentação “está na moda”. “Em nome da praticidade, as pessoas optam por alimentos que ‘roubam’ vida. Quem considerar conversar com um profissional para detectar carências e fazer adequações certas na alimentação, irá colher benefícios a médio e longo prazo”, afirma.
Sérgio Bento De Sepúlvida Júnior
Sócio Administrador e Escritor
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